sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Círculo já sem quadratura


Por Joana Lopes
Entre as brumas da memória

Assisti hoje a uma notável exibição de ausência de um mínimo de pluralismo no debate político: a repetição do programa «Quadratura do Círculo», emitido ontem à noite pela SIC Notícias.

Nem sequer pondo em causa que uma estação de televisão, por ser privada, possa escolher os comentadores que entender, e sendo certo que os elementos que compõem o painel são os mesmos desde há muito, deu-se agora um salto qualitativo no sentido de uma convergência cada vez maior de posições, ancorada na fatídica «inevitabilidade» do destino negro que, «lá fora», outros estão a decidir por nós para os próximos longos tempos.

Só a distribuição de culpas parece distinguir defesas e ataques, já que, quanto ao resto, se ouvem afirmações perfeitamente cristalinas, como esta de Pacheco Pereira: «O que se vai votar é tão importante para o PS como para o PSD e o Orçamento não seria muito diferente se fosse este último a fazê-lo». Sic.

Mais esclarecedora ainda foi a posição assertiva de António Costa, para quem o país tem um verdadeiro problema de governabilidade porque as maiorias absolutas são raras e as coligações difíceis – sobretudo à esquerda, porque 20% do eleitorado (peanuts…) é representado por partidos com os quais não é possível funcionar. Que fazer então? Uma coligação PS – PSD? Não, porque há que permitir a alternância. Mas estes dois partidos devem criar condições para que aquele que ganhar governe, com base num «pacto de regime» que assegure a aprovação do programa e do orçamento, bem como a gestão de moções de censura e de confiança. Assim mesmo, sem tirar nem pôr e para todo o sempre.

É isto que entra pela nossa casa dentro, é contra este monolitismo que se impõe a exigência de diversidade e é nesta batalha que se insere a Petição pelo pluralismo de opinião no debate político-económico, lançada há dez dias, e que conta já com mais de 1.000 assinaturas.

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